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terça-feira, 10 de maio de 2011

7º Encontro - Quadro 3: Leitura

Ler por prazer é o X da questão

Num país castigado pelo analfabetismo, projetos de incentivo à leitura são muito mais que bem-vindos: são fundamentais


Freqüentador do projeto de incentivo à leitura coordenado pelo Centro Educacional Kaffehuset Friele, em Poços de Caldas, MG: transformando jovens em apaixonados por livros. Foto: Marcos Rosa
Frequentador do projeto de incentivo à leitura coordenado pelo Centro Educacional Kaffehuset Friele, em Poços de Caldas, MG: transformando jovens em apaixonados por livros. Foto: Marcos Rosa
Correr os olhos pelos livros dispostos numa prateleira, escolher um deles e dirigir-se à poltrona mais próxima, seja na biblioteca, na livraria ou na sala de casa. Melhor ainda: deixar-se escolher por uma obra literária. À medida que as páginas são viradas, o leitor se vê transportado para uma espécie de realidade paralela - um mundo inteiramente novo, repleto de descobertas, encantamento e diversão. Pouco importa se quem lê é criança, jovem ou adulto. Menos ainda se o que está sendo lido é poesia, romance ou um livro de auto-ajuda. O que realmente interessa é a cumplicidade entre o leitor e a obra, alicerçada no prazer que só a leitura é capaz de proporcionar.
Ler por prazer é o X da questão. Há quem leia, por exemplo, apenas para se informar, dedicando regulamente algumas horas de seu precioso tempo a jornais e revistas - como você, caro leitor, está fazendo neste exato momento. Trata-se de um hábito mais que saudável, a ser preservado e disseminado, e de suma importância na chamada "sociedade da informação" em que vivemos. Mas ele não necessariamente irá transformar você num apaixonado pela palavra escrita. Da mesma forma, a leitura para estudar, parte da rotina nas salas de aula, tem suas funções pedagógicas, mas não faz despertar a paixão pela literatura. Quem descobre prazer numa obra literária nunca mais pára de ler. Quando chega ao fim de um livro, já está louco para abrir o próximo. E só tem a ganhar com isso.
 
O papel da escola é fundamental nesse processo. E quem melhor que o professor para despertar em seus alunos o prazer da leitura? São muitas as atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula com esse objetivo. "Promover um debate, por exemplo, para discutir cenas ou situações presentes num livro que acaba de ser lido pela turma é uma prática importante e muitas vezes esquecida", afirma a educadora Maria José Nóbrega. O problema é que o profissional de educação nem sempre conta com os recursos necessários para concretizar essas atividades, ou simplesmente não sabe como implementá-las.
Quando a escola não cumpre esse papel, ganham relevância os inúmeros projetos de fomento à leitura espalhados pelo Brasil, tema desta edição especial de NOVA ESCOLA. Num país que ainda sofre com deficiências no ensino público e com o alto índice de analfabetos funcionais (aqueles que, embora tenham aprendido a decodificar a escrita, não desenvolveram a habilidade de interpretação de texto), qualquer iniciativa que vise a transformar brasileiros em leitores é extremamente bem-vinda.



Iniciativas que despertam as pessoas para a leitura


Felizmente, nem tudo são trevas quando o assunto é o despertar da leitura no Brasil. Nos últimos anos, algumas ações capitaneadas pelo poder público, pela iniciativa privada e por entidades do terceiro setor - ONGs, institutos ou associações sem fins lucrativos - vêm ajudando a reverter essa situação. Entre elas, o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), um conjunto de projetos, programas, atividades e eventos implementado pelo governo federal, com a participação da sociedade civil, que tem como objetivo levar a leitura para o dia a dia do brasileiro. Também contribuem as badaladas feiras literárias espalhadas pelo Brasil, como a Flip (Festa Literária Internacional de Parati, no Rio de Janeiro), o Literato (Encontro Literário do Tocantins) e a Feira do Livro de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Elas atraem milhares de visitantes todos os anos e mobilizam a mídia em torno da importância do livro.

Para Marisa Lajolo, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, cada uma dessas iniciativas é extremamente importante. Contudo, é fundamental que as políticas de incentivo à leitura se descolem da mera organização de feiras ou da criação de bibliotecas e salas de leitura. O mais urgente, segundo ela, é investir em material humano, com a formação de mediadores de leitura, professores e bibliotecários capazes de semear o prazer da leitura por todo o país. "Mediadores são os instrumentos mais eficientes para fazer da leitura uma prática social mais difundida e aproveitada."

À frente de uma verdadeira revolução silenciosa, que raramente vira notícia, projetos de incentivo à leitura como os que você conhecerá nas reportagens desta edição especial formam e multiplicam mediadores de leitura em todo o Brasil, muitas vezes atuando em regiões carentes e em localidades de difícil acesso. E mais: criam bibliotecas comunitárias, facilitam o acesso aos livros, promovem encontros com escritores... Enfim, transformam milhares de crianças, jovens e adultos em leitores - sempre com muito prazer.




Oficina de leitura e produção de texto

MINICONTO

A lenda do gachorro

Um caminhão desavisado derrapou no chão ensaboado, de orvalho e barro esburacado, e acabou virado de lado. Nenhum ferido ou machucado, e o caminhão só um pouquinho amassado. Mas, da carga, não sobrou nada, dúzias de ovos espalhados pela estrada. Os que não se quebraram abasteceram a vizinhança de omeletes variados e gemada pras crianças.
Mas teve um ovo ainda novo, que escapou com casca e tudo. Caiu na grama o sortudo, rolou ribanceira abaixo e aterrissou bem embaixo de um sono quentinho e peludo.
E o dono do sono dormiu pra cachorro, quer dizer, pra cadela. E teria ficado na dela, preguiçosa sem mais tamanho, se não fosse esse caroço estranho...
Caroço?!?
Levantou mais que depressa e ficou chocada à beça. Já estava fazendo um ninho com folhas secas e carinho, quando viu a vida rachando de nova, abrindo caminho bem na frente do seu focinho e piando: "Mamãe!"
O filhote virou um frangote, que não parava o tempo inteiro. Quando não ciscava no terreiro, corria atrás dos carros, enterrava comida no canteiro ou tentava morder os pés do carteiro. Sem pena.
Quando virou um galo formoso, cismou cantar de galo e virar cantor famoso. Estufou o peito penudo, preparou a voz de veludo e, com o coração a mil, abriu o bico e....... latiu.
Isso mesmo: au-au em alto e bom tom. Embora contra a natureza, não foi nenhuma surpresa.
A partir daquele dia, toda noite ele latia. Varando a madrugada e acordando a cachorrada.


SOBRE O AUTOR
Guto Lins, 44, é designer, ilustrador e autor de "É o maior!" e "Zezé, trabalho não é brincadeira".




1.     Exploração do título;

2.     Exploração do autor;
3.     Exploração do suporte textual;
4.     Leitura do texto pela professora em partes (fazendo suspense, prevendo antecipações, explorando expressões, etc.);
5.    Explorar o final do conto e perguntar aos alunos porque o texto é um conto. (Permitindo assim trabalhar as características deste tipo de texto);
6.    Atividades de produção de texto: Após a leitura do miniconto “A lenda do gachorro” e sua exploração, tanto oral quanto escrita, pode-se sugerir que as crianças produzam novas histórias de animais que foram criados por “pais adotivos”. A proposta será a montagem de uma coletânea, ou portfólio, em que essas histórias serão colecionadas e lidas pelos outros alunos da escola;
7.   Correção dos textos dos aprendizes.







Ruth Rocha: "Leitura não pode ser só folia"

A autora acredita que o livro também deve cumprir o papel de enriquecer o vocabulário


Aos 77 anos, a paulistana Ruth Rocha ainda faz muita criança se apaixonar pela literatura. Ela é a autora do clássico Marcelo, Marmelo, Martelo (Ed. Salamandra), um fenômeno editorial que já ultrapassou a marca de 1 milhão de cópias vendidas. Mas sua obra vai muito além. Com mais de uma centana de livros publicados e prêmios importantes no currículo, Ruth já tem dois novos títulos saindo do forno: Solta o Sabiá (Ed. Companhia das Letrinhas) e Quem Tem Medo do Novo (Ed. Global).


O que fazer se uma criança, aos 10 anos, não demonstrar qualquer interesse pela leitura? 
RUTH ROCHA  O primeiro passo é descobrir se ela realmente entende o que anda lendo. Muitas vezes o título não é adequado à sua capacidade de interpretação. Nesse caso, o ideal é partir para a leitura de textos curtos ou pequenos trechos de histórias mais longas. 

O que você acha do estímulo à leitura por meio de atividades lúdicas? 
RUTH  Concordo, desde que as propostas sejam desenvolvidas com inteligência e não transmitam a ideia de que a folia e o divertimento têm um papel maior do que a própria leitura. Além disso, os professores deveriam ler os livros infanto-juvenis antes de indicá-los aos alunos.



Qual é o segredo do sucesso de Marcelo, Marmelo, Martelo? 
RUTH  Se eu soubesse, faria todos como ele! O que sei é que um bom livro precisa ter verdade, propor novas questões e fazer o leitor pensar. Nunca escrevo porque tal assunto pode agradar ao público infantil, mas sempre preocupada em contar uma boa história e ser fiel aos meus valores. 

Você publicou muitas adaptações de clássicos. É difícil falar a língua das crianças nesse gênero literário? 
RUTH Dou um tom mais infantil à obra, mas não fico tentando buscar palavras que sejam mais fáceis. O livro também é uma forma de enriquecer o vocabulário, e a adaptação precisa respeitar o original. 

A internet ajuda ou atrapalha o desenvolvimento da leitura? 
RUTH Essa tecnologia é muito nova e acho que ainda não se encontrou uma linguagem adequada para ela. Por enquanto, utiliza-se muito a rede para fazer pesquisas, sem saber como fazer isso, porque ninguém ensina. Os alunos copiam e colam no trabalho escolar qualquer bobagem. Outro problema é saber se as informações veiculadas são fidedignas. Nesse sentido, o livro é mais confiável.





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