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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Carlos Drummond de Andrade


Casa Arrumada 


A vida é muito mais do que isso...
"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade."
Casa arrumada é assim:
Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.
Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.
Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas...
Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:
Aqui tem vida...
Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.
Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.
Sofá sem mancha?
Tapete sem fio puxado?
Mesa sem marca de copo?
Tá na cara que é casa sem festa.
E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.
Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.
Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto...
Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.
A que está sempre pronta pros amigos, filhos...
Netos, pros vizinhos...
E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.
Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.
Arrume a sua casa todos os dias...
Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela...
E reconhecer nela o seu lugar. 



Curiosidades:

Além de poeta e jornalista, Carlos Drummond de Andrade foi um exímio contista e cronista. Seu legado conta com mais de 70 livros, trabalhos em quase 20 jornais e revistas e a participação em 11 obras de outros escritores. Sem dúvida, era um apaixonado pela língua e pela escrita. Muitos literatos inclusive afirmam que Drummond não conseguia parar de produzir, obcecadamente.
Porém, engana-se quem pensa que Drummond não era também um leitor de mão cheia. Pedro Drummond, neto do escritor, conta que o avô era uma espécie de arquivista nato e a prova disso é o Dicionário de Pseudônimos Brasileiros, datilografado por Carlos Drummond de Andrade e fruto de sua experiência com a literatura. Na obra, ele associa os nomes verdadeiros, os pseudônimos e os veículos em que eram publicados. E ainda separados em ordem alfabética.
O livro está em exposição na Biblioteca Nacional e os visitantes podem encontrar assinaturas curiosas como a de d. Pedro I em uma carta no Diário do Governo, em 1823: “Anglo-maníaco, e por isso o Constitucional puro”; Gonçalves Dias, em artigos no Correio Mercantil, em 1849: “O gnomo”; ou de José de Alencar, no texto A corte do leão, escrito em 1867: “Um asno”.



Quando encontrar alguém - Carlos Drummond de Andrade






Fontes:

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